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24 de julho de 2013

O homem mais forte do mundo


Anos atrás, no início da minha adolescência, tive um papo com um amigo que me lembro muito bem. Falávamos animadamente sobre como poderíamos ficar fortões e conquistar muitas meninas por isso. Mais precisamente, falei que meu pai era fortão, musculoso e que provavelmente eu também seria. Passado algum tempo, este amigo conheceu o meu pai e depois me questionou 'Aquele era o seu pai? Você não disse que ele era fortão?'. 'Como assim?' - pensei eu - 'Meu pai é fortão, sim!'

Esta semana meu pai não está bem de saúde. Tem sentindo algumas dores e mal tem conseguido ir ao trabalho. Hoje, quando nenhum dos seus 5 filhos puderam acompanha-lo ao hospital, pedi dispensa no trabalho e fui. Na volta de ônibus, morto de cansaço, deitei-me em seu ombro e comecei a me lembrar de muita coisa. 

Eu não fui o filho favorito do meu pai (sei que todos dizem que não há favoritos, mas desconfio seriamente disto). No caso do meu pai, não era preciso ir muito longe para perceber a armação. Eu, que herdei o nome de um grande ídolo do futebol, não herdei o talento e nem o interesse pelo esporte. Eu me refugiava em livros. Enquanto sobrou pro meu irmão a tarefa de ser o ídolo da seleção e a esperança de tirar a família da pobreza. 

Lembrei-me de um dos dias mais tristes da minha vida quando, aos 6 anos, fomos despejados da casa em que morávamos por não termos condições de pagar o aluguel. Meu pai, desempregado, conseguiu uma casa em construção de um amigo e nos mudamos para lá. Casa muito engraçada que não tinha teto, não tinha nada. Literalmente.

Lembrei-me do jingle que tocava, todos os dias, no radinho de pilha dele. 'Rádio Globo: música, esporte e notícia', às 4 da manhã, quando ele saia para uma dura jornada de trabalho, mas não sem antes preparar o café para a família. (E, até hoje, onde ele está, tem um radinho ao lado).

Lembrei-me de certa vez quando peguei catapora. Ele me disse que se eu sarasse me daria um pacote de biscoito recheado inteiro para eu comer. Eu sarei, mas não havia dinheiro para o pacote de biscoitos.

Lembrei-me de, como todos os domingos, ele me acordava para ir a missa. Algumas vezes eu fingia dor de barriga, nas outras dor de cabeça. A maioria, não conseguia escapar.

Lembrei-me de como, todos os anos no dia das crianças, ele nos levava ao Parque do Carmo ou a Aparecida do norte. Era o dia mais feliz do ano! A família inteira junta, levando refrigerante e lanches nas mochilas, vivendo um dia tão aguardado. Só não menos esperado do que a unica vez em que ganhávamos brinquedos, no final do ano, uma cortesia que a empresa dava aos filhos dos funcionários.

Lembrei-me de como, no ano retrasado, dei a ele uma Havaianas toda estilosa de presente de natal e quando perguntei porque ele não usava, me respondeu: 'Só vou usar em ocasiões especiais'.

E lembrei de muitas, muitas outras coisas.
Recostado em seu ombro percebi o quanto estou mais alto que ele, mais gordo e até mesmo mais forte que o senhorzinho de 63 anos que, de segunda à sexta, levanta pela madrugada para ir a outra cidade embalar latas de tinta, carregar caminhões, pegar peso recebendo um salário que é quase 3 vezes inferior ao meu. Percebi como ele ficou feliz por eu ter ido acompanha-lo. Como, mesmo sem nunca ter dito, ele se orgulha do filho que me tornei. Como se interessa pelo meu trabalho (por mais que nunca entenda o que eu faço), pelos meus estudos, pelos meus projetos pessoais. Percebi como tenho orgulho deste cara que, mesmo 'não tendo nada', nunca deixou nada faltar aos filhos.

Meu único desejo hoje foi reencontrar aquele amigo e dizer, com toda a certeza do mundo: Meu pai não é apenas um fortão... ele é o homem mais forte do mundo!

Em lágrimas,
Josimar

12 de junho de 2013

Trilogia

 - Um sentimento em três partes –

Do Encontro:
Soube na primeira vez que a viu. Era ela. Só poderia ser ela.
Saída do Jardim do Éden. De dentro da concha. De Shangri-la.
Tirada de um livro de Adélia Prado, de um filme do Almodóvar, de uma música do Camelo, de uma caixa de lápis de cor.
Na sua imaginação sonhadora construiu naquele instante um futuro. Com casa, filhos e um cachorro chamado Pingo.
Os viu entalhando nomes e corações em árvore, escolhendo o filme na porta do cinema, economizando moedas para fazerem uma viagem.
Apaixonou-se perdidamente por ela.

Do Desencontro:
Fez-se e desfez. Juntos os cacos. Se refez para se desfazer novamente.
Mendigou sorriso e atenção. Comeu do pão da indiferença.
Foi príncipe e sapo, médico e monstro, rei e peão.
Mostrou o que era, o que não era e o que poderia ser.
Mas nada adiantou.
Recolheu do chão sua dignidade. Colocou em trapos o seu amor próprio.
E desistiu.

Do Reencontro:
Acordou de um coma. Gritou e o eco, vazio, apenas repetiu a sua voz.
Foi ao cinema, ao teatro e ao parque.
Viajou. Conheceu gente nova. Visitou amigos que há muito não via.
Descobriu o doce sabor do tinto.
Dormiu com várias mulheres. Tulipa, Clarice, Vanessa, Mallu e Maria Rita.
- Todas sussurrando em seu ouvido para que nunca as deixasse –
Comprou um jogo de vídeo game e livros novos.
Ensinou uma criança a andar de bicicleta.
Começou a correr na ciclovia e comer biscoitos integrais.
Encontrou Deus nos lugares mais inusitados.
Fortaleceu a sua fé.
Riu, se divertiu, brincou, dormiu na rua, protestou, chorou... e riu de novo.

E, mais do que nunca, apaixonou-se por si mesmo.

30 de outubro de 2012

A Batalha que perdi (ou vencido por Anjos)



Dia desses, terminei um livro em que o autor jogou a afirmativa: ‘Em qualquer relacionamento o primeiro a dizer ‘Eu te amo’ é o primeiro a perder. ’
Isso acontece porque quando falamos ‘eu te amo’, automaticamente, a outra pessoa passa para a condição de ‘ser amada’.  E aí, meu amigo, temos um problema!
De posse do amor do outro a pessoa amada opta pelo que quer fazer dele.
Corresponder?
Fortalecer?
Ignorar?
Ela é amada, ela tem este direito!

Há alguns anos resolvi dividir o amor com uma pessoa. 
Uma amiga, de um amigo.
E, pouco a pouco, essa pessoa foi entrando no meu coração.
A delicadeza de meias nos pés sob o gramado da minha alma,
A violência de uma voadora no peito nas minhas convicções tortuosas.

Talvez esse texto seja um erro. Eu devesse esperar um aniversário ou alguma situação importante para dizer essas coisas. 
Mas, cada dia em que falo com ela, faz-se cuidados diários, sempre momentos importantes!
Temos o nosso próprio vocabulário. As nossas próprias saudações. As nossas próprias internas.
E ela está no filme, na música, no cinema, no livro... em tudo uma chance de compartilhar e aprender um pouquinho mais.

Aliviar um pouco os fardos da vida.
Tratar um pouco as feridas causadas pelos outros.
Cavar um pouco esperanças soterradas.

E tudo isso está embrulhado em um lindo pacote de Philos. Uma amizade de irmãos, que não busca o mal, nem os próprios interesses. Que não se dobra diante da malícia e nem cede diante dos rumores.
Encontrar em tudo um motivo pra rir. E, quando eles não vêm, o famoso senta e chora. Porém juntos!
Que se expõe. Que fala de amor e saudade assim como se fala do clima ou do trânsito. O pensador diz que 'amizade não se alardeia, se vive.' Mas acontece que a vivência da nossa é, por si mesma, um alarde. 
Uma grande trombeta anunciando em alto e bom som que sim, 
ainda existe 'gente como nós'!

Eu me rendo, Mariana Anjos.
Digo que te amo e perderei quantas vezes for.

15 de dezembro de 2011

Um conto de Natal

Mais uma vez natal. Mais uma vez lembranças.

Lembro-me vagamente dos natais em família que tínhamos quando criança. A situação econômica não nos permitia grandes extravagâncias, então natal se resumia a frango assado, maionese e suco de maracujá. Um verdadeiro banquete.

Na TV de madeira os maravilhosos brinquedos do Gugu e as maquininhas de ‘faça você mesmo’ da Eliana que enchiam os meus olhos e dos meu irmãos. Ganhavamos brinquedos da empresa do meu pai, o que nos deixava extasiados pois era o único brinquedo que teríamos durante um ano.

Lembro de um dia ter ido ao banco com meu pai sacar dinheiro. Na época, meu pai era ajudante de faxina. Quando chegamos ao caixa eletrônico ele começou a despejar dinheiro sem parar.

Na minha mente de criança: ‘Um milagre!’

Neste momento meu pai recolheu o dinheiro do caixa, levou-o até o gerente e explicou o ocorrido justificando-se ‘Saiu a mais! Não tem tudo isso na minha conta!’.

O gerente o agradeceu inúmeras vezes. Saímos e fomos comprar o frango da ceia.

Sabe, naquele natal meu pai não me deu um brinquedo que quebrasse ou algo em que eu colocasse pilhas e brilhasse sem parar.

O que ele me deu foi muito maior do que qualquer coisa que eu pudesse comprar. Algo que não poderá ser quebrado e nem arrancado de mim.

Ele me ensinou a ser honesto.

22 de novembro de 2011

O Epitáfio da minha fé


Aqui jaz um cristão.
E talvez as pessoas irão parar diante da sepultura e se perguntarão: 'Será que foi morte matada ou foi morte morrida?'
de antemão afirmo: as duas coisas.

Morte matada.
matada pelos que inverteram os sentidos.
matada pelos que distorceram o que 'Ele' disse.
matada pelos amantes das teorias e inimigos das práticas.

Morte morrida.
morrida pela dor no coração.
morrida pelo zêlo que o consumiu por causa da Casa.
morrida pela decepção.

E a cegueira, outrora dos relâmpagos, agora dos flashs das digitais.
E a fumaça, outrora do incenso, agora das máquinas.
E as luzes, outrora de seu Criador, agora dos strobos.
E o brilho, outrora da glória, agora do glitter.

E passará a andar por aí, como zumbi.
Como viu os outros fazendo.
Balançando a cabeça e concordando. Como viu os outros fazendo.
Negociando, vendendo e vendendo-se. Como viu outros fazendo.
Oferecendo a causa em promoção. Como viu outros fazendo.
E vendendo o que é de graça. Como viu outros fazendo.

E o grito que já foi tão alto reduziu-se a um sussuro.
E a bandeira, que um dia carregou sobre um mastro, enrolará o seu corpo.
O corpo, que foi partido por todos, foi partido por ninguem.
E a causa que tinha como vida ou morte o escolheu para matar.


E, por fim, descobriu que a existência foi vã.
Porque a causa que tinha já não tem mais.

24 de julho de 2011

Mais que mil palavras...

Sem querer apaguei as minhas fotos do Picasa e, com isso, sumiu tudo do blog!
Vou ver as que reencontro pra subir de novo.

Sei que uma imagem vale mais que mil palavras.
Mas, por enquanto, vamos ficar só com as mil palavras mesmo, rs.



13 de junho de 2011

Pipas




Descarrego o meu carretel.
Cada vez estão mais longes de mim.
Somente o vento pode dizer para onde vão.
Se a brisa é suave, os deixo deslizar pelo imenso céu azul.
Se o vento é mais forte, rapidamente sou tentado a puxa-los de volta para mim.
Mas só de longe posso vê-los como um todo. Em seus detalhes e imperfeições.
E, daqui da terra posso ver que não foram feitos para estar comigo, mas sim nas alturas.
Mais perto do Criador.

Estes pipas são as minhas vontades.