- Um sentimento em três partes –
Do Encontro:
Soube na primeira vez que a viu. Era ela. Só poderia ser
ela.
Saída do Jardim do Éden. De dentro da concha. De Shangri-la.
Tirada de um livro de Adélia Prado, de um filme do Almodóvar,
de uma música do Camelo, de uma caixa de lápis de cor.
Na sua imaginação sonhadora construiu naquele instante um
futuro. Com casa, filhos e um cachorro chamado Pingo.
Os viu entalhando nomes e corações em árvore, escolhendo o
filme na porta do cinema, economizando moedas para fazerem uma viagem.
Apaixonou-se perdidamente por ela.
Do Desencontro:
Fez-se e desfez. Juntos os cacos. Se refez para se desfazer novamente.
Mendigou sorriso e atenção. Comeu do pão da indiferença.
Foi príncipe e sapo, médico e monstro, rei e peão.
Mostrou o que era, o que não era e o que poderia ser.
Mas nada adiantou.
Recolheu do chão sua dignidade. Colocou em trapos o seu amor
próprio.
E desistiu.
Do Reencontro:
Acordou de um coma. Gritou e o eco, vazio, apenas repetiu a
sua voz.
Foi ao cinema, ao teatro e ao parque.
Viajou. Conheceu gente nova. Visitou amigos que há muito não
via.
Descobriu o doce sabor do tinto.
Dormiu com várias mulheres. Tulipa, Clarice, Vanessa, Mallu
e Maria Rita.
- Todas sussurrando em seu ouvido para que nunca as deixasse
–
Comprou um jogo de vídeo game e livros novos.
Ensinou uma criança a andar de bicicleta.
Começou a correr na ciclovia e comer biscoitos integrais.
Encontrou Deus nos lugares mais inusitados.
Fortaleceu a sua fé.
Riu, se divertiu, brincou, dormiu na rua, protestou, chorou...
e riu de novo.
E, mais do que nunca, apaixonou-se por si mesmo.
3 comentários:
Josimar Drummond de Andrade! =)
Belo e poético, adorei.
Tão Josi...
Biscoitos integrais, video game e protestos! Com direito a Clarice Galvão :D
excelente.
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